O mundo inteiro está, por estes dias, preocupado com a escalada militar no Médio Oriente, na sequência dos ataques efectuados contra alvos iranianos pelas forças norte-americanas, e da subsequente retaliação levada a feito, com mísseis terra-terra, pelas autoridades de Terão, contra bases americanas na região.

Aquém de uma possível guerra que no melhor dos casos poderá envolver o Irão, por um lado, e os Estados Unidos e seus aliados, por outro, os impactos imediatos dessa escalada nos preços internacionais do petróleo já se fazem sentir (subiram mais de 4,5% após os ataques iranianos desta terça-feira), constituindo uma total imprevisibilidade dizer até onde poderão ir esses agravamentos nos próximos meses ou anos.

As consequências económicas poderão ser altamente penalizadoras para o mundo inteiro – bastando lembrar a crise do petróleo ocorrida no primeiro decénio deste século e que teve o seu pico em 2008 – e para Cabo Verde, país altamente dependente da importação de combustíveis fósseis.

É assim que, mais uma vez, factores exógenos, como é, presentemente, o caso, poderão condicionar o crescimento económico do país e o bem-estar das famílias cabo-verdianas, mas, tendo em conta a transição energética e outras medidas de política em curso em Cabo Verde, tal perspectiva pode não constituir uma fatalidade.

Actualmente, pese embora a persistência de algumas fragilidades estruturais no sector em causa, Cabo Verde está mais bem preparado para fazer face aos choques externos e pode, com um trabalho aturado, através da materialização das medidas consistentemente tomadas pelo Governo, do quadro legislativo aprovado, dos incentivos disponibilizados e do envolvimento activo da sociedade civil, ultrapassar com mais ou menos turbulências os difíceis tempos que se avizinham.

Nunca houve, em Cabo Verde, um ecossistema mais favorável à transição energética, os investimentos públicos jamais foram tão significativos e a sociedade – empresas e cidadãos – nunca estiveram tão disponíveis para se converterem às energias renováveis, não porque constitui uma moda, mas principalmente devido ao reconhecimento de que essa solução é amiga do ambiente, empodera as famílias e protege o país dos choques externos.

Esta é a hora de apostar fortemente nas ER e de cada um, em Cabo Verde, encetar, por si mesmo, a sua própria transição energética, reduzindo as respectivas facturas familiares e empresariais de consumo e minimizando os efeitos da bastante provável crise petrolífera que os recentes acontecimentos no Médio Oriente fazem prever.

O Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI), fiel à sua missão, reitera, neste contexto, a sua determinação de apoiar Cabo Verde – não apenas as instituições públicas como também as famílias, os cidadãos e as empresas – a fazer uma aposta séria e consistente nas Energias Renováveis e na Eficiência Energética, aumentando a resiliência do país face a factores que não pode controlar e que, tradicionalmente, o têm penalizado fortemente.

Façamos da crise uma oportunidade.

Luís Teixeira

PCA do CERMI